Em razão do hiato entre a data da publicação postalizada em 15 de agosto do corrente, cujo título é Rádio Nacional de São Paulo – 2, se faz necessário um resumo do conteúdo daquela postalização em relação a presente digitação. Naquela oportunidade, enfatizei a importância da decisão assumida, considerando o pleno exercício de minha profissão, iniciada em 1943, tendo permanecido até 1955, portanto, por 13 anos.
Naqueles dias finais de 1955, informei ao Paulo Pires, de quem eu era empregado na oficina de entalhação, de que havia tomado conhecimento de um anúncio recém-publicado no jornal Ultima Hora, em que uma empresa admitia desenhista de publicidade. Paulo Pires, que acompanhava e estimulava meu interesse em iniciar naquela profissão, fora por mim avisado de que, no sábado seguinte, eu iria averiguar a solicitação mencionada no jornal.
Saí de casa por volta das 13 horas no sábado seguinte, rumando para a Rua Sebastião Pereira, no bairro de Santa Cecília. Não fazia ideia daquela localização. A conversa que tive com meu pai dias antes, me ajudaria a chegar àquele ponto da cidade. No trajeto feito desde minha casa, fui novamente repensando na decisão que tomara. Vieram-me à mente algumas dúvidas sobre a decisão que estava prestes a consolidar. Não nego que achava que, ainda poderia desistir daquela empreitada e voltar na segunda-feira para minha bancada de entalhador na oficina do Paulo, aonde meu emprego estava garantido e minha posição profissional muito respeitada, notadamente pelo fato de que meu amadurecimento naquela época havia atingido um nível elevado, com razoável salário, além de estar trabalhando próximo de minha casa, de onde me locomovia de bicicleta.
Entretanto, meu temperamento sanguíneo - até então inconsciente - me impulsionava a seguir na decisão tomada. Andando pela Rua Sebastião Pereira, procurava pelo número 250, (se não houver falha de memória). Notei à distância, certa aglomeração em um ponto daquele logradouro. Surpreso, verifiquei então ser naquele local, o endereço da famosa Rádio Nacional, naquela época, uma das emissoras de maior projeção radiofônica do Brasil, com artistas internacionais consagrados, comediantes famosíssimos, além de proprietária da TV Paulista, canal 5, a mais importante depois da TV Tupi ,a pioneira no Brasil, e TV Globo.
A princípio, tive dúvidas de que fosse ali o local em que, possivelmente estivessem precisando de um desenhista. Naquele momento, lembrei-me de um colega da escola de desenho de propaganda - Waldir Biral- desenhista da não menos famosa Rádio Record, e que tinha em seu quadro de artistas, nomes como o de Adoniran Barbosa, Randal Juliano, Abelardo Barbosa (Chacrinha), além, de, entre outros, da cantora Isaura Garcia.
Lembro-me de uma ocasião em que Waldir convidou-me para uma visita num sábado á tarde para conhecer as instalações da Rádio Record, cujo auditório localisava-se no Largo da Misericórdia, em pleno centro de São Paulo. Na saída, ao tomarmos o elevador, em um andar abaixo, e ao se abrir-se a porta daquele veículo, adentraram Nora Ney, Emilinha Borba, Sérgio Goulart, e Elizete Cardoso; observei que ainda tentaram entrar no elevador Aracy de Almeida e Marlene. Certamente faziam temporada artística na emissora. Confesso que fiquei emocionado em me sentir tão próximo àqueles artistas do Rio de Janeiro.
Na porta da Rádio Nacional, perguntei a um senhor que ordenava o acesso de pessoas àquele local; exibi o recorte do jornal em que era pedido um desenhista. Gentilmente disse-me: você está com sorte; “o Dr.Humberto está aqui hoje; vá por aquele corredor até o final. Vire à esquerda e suba uma escada. Lá em cima, pergunte onde é a sua sala”.
Ao passar por àquele corredor, à esquerda, observei duas grandes portas laterais ao auditório, em cujo interior pessoas se acomodavam nas poltronas, para assistirem ao programa Galera do Nelson programa semanal. Àquele trajeto eu faria por um período de quase três anos.