quarta-feira, 10 de junho de 2009

A VERDADEIRA CRISE ESTÁ NO HOMEM - 3

Em todos os domínios, tudo se modifica e tudo se desmembra; os sistemas opõem-se aos sistemas, os dogmatismos antigos, e o rigor das fórmulas dificilmente escondem a incerteza e a angústia. Tudo se torna, cada vez mais, presa de uma dolorosa fermentação.
É no plano posterior desses obscuros dramas dos espíritos e das almas, que é preciso ver desenrolarem-se as grandes cenas que a história reteve. Os mesmos que, nos dias do cisma, eram por um ou por outro papa, ou se dilaceraram mutuamente nas primeiras guerras nacionais, são também os homenspara quem o essencial está de novo posto em causa e que irão se defrontar com tenebrosas forças. Nada se compreende do processo de Joana D' arc, se não se tiver em conta a atmosfera de feitiçaria de sua época, e que, no séquito imediato dessa luminosa figura, havia um Gilles de Rais, cujas perversidades lhe valeram ser assimilado ao Barba Azul do conto. Será um grande engano sobre o sentido da grande dilaceração que a Igreja conheceu, se não nos lembrar-mos de que ao tomar partido por uma ou outra obediência, pelo papa ou pelo concílio, é de certa maneira, escolher uma concepção do catolicismo. Mas, precisamente porque, nesses confusos debates, se trata de muito mais do que é contingente, visto que está em causa o essencial, esse período não é somente um tempo de declínio.Transição entre a Idade Médiae da grande época e a era do Renascimento, não somente no plano político mque este século, em torno de 1350 a 1450, aparece também como um século de criação. Ali se prepara o futuro, até nos silenciosos mosteiros onde se encerram os místicos; e a Igreja que então sente enfraquecer sua influência sobre a vida espiritual tanto quanto sobre a vida política e social, ali forja, sem que, muito se aperceba disso, e as suas armas de desforra, depois de uma crise que não terá podido impedir
(Trecho extraido do livro A reforma Protestante , de Daniel-Ropes-1962- Páginas 131/132/133)

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