quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

RÁDIO NACIONAL de SÃO PAULO - Parte 11

Em razão da cultura de boa parte dos povos, é comum atribuir o sucesso financeiro e a solidez comercial de determinados empresários, estabelecendo aos mesmos, conotações com manobras desonestas.
Aprendi a admirar o caráter desbravador de Sílvio Santos, em face de algumas de suas ações como pessoa. Uma delas, sua perseverança, além de ser dotado de muita inteligência, determinação, tirocínio comercial, e empreendedor nato. Antes de fazer parte do quadro de funcionários da Rádio Nacional, tinha conhecimento da existência do Baú da Felicidade, empresa fundada no início dos anos 50 por Manoel de Nóbrega. Na Rádio Nacional fui testemunha da ideia de Nóbrega em transferir sua empresa, quase falida, a várias pessoas da emissora. Esse fato chegou a ser concretizado, porém sem nenhum resultado. Assim, efetivamente, o Baú da Felicidade nunca deixou de ser de Manoel de Nóbrega.
A falta de pontualidade no pagamento dos salários na rádio se agravava; alguns grupos se formavam com a finalidade de promover particularmente shows artísticos para sobreviverem. Vez ou outra surgiam rumores de que seriam feitos “vales” a fim de satisfazer ao menos, os de salários menores. Evidentemente, artistas de nomes famosos não frequentavam aquelas filas. Certa vez meu vizinho naquele local foi Arthur, líder dos Demônios da Garoa. Outros artistas de renome também tomavam posição para se dirigirem até o local em que se encontrava Amorim, o “Homem do Dinheiro”, como era conhecido, e que nos atendia pelo guichê de sua sala.
Em 24 de dezembro de 1957, eu era um dos poucos funcionários trabalhando no prédio, ocupado com o desenho de um cartaz. Preparava-me para ir para casa, saindo às 12 horas, quando ouvi o telefone. Ao atender, fui surpreendido pela voz de Sílvio Santos, perguntando-me quanto me devia por alguns desenhos feitos na revista Brincadeiras para Você. Pediu-me para que eu o aguardasse. Na época, Sílvio morava em um quarto de pensão, na Rua 13 de Maio, na Bela Vista. Vinte minutos após, Sílvio Santos surgiu em minha sala. Aproximando-se de minha prancheta de desenho deu-me o dinheiro que melhoraria um pouco as coisas em minha casa. Enganei-me quando imaginei que iria deixar de receber de Sílvio, como invariavelmente ocorrera com muitos outros colegas de trabalho. Ao se despedir, Silvio Santos deu-me sua mão desejando “Um Feliz Natal”. Algum tempo antes, Fontenelle, que havia substituído Humberto de Campos Filho em meu departamento, concedeu-me o período livre após as 14 h a fim de que eu tivesse possibilidade de auferir ganhos extras fazendo trabalhos por minha conta. Consegui gratuitamente uma sala no Edifício Martinelli, centro de São Paulo, para aquele período do dia, graças ao trabalho de ilustração de capas de livros que eu fazia ao senhor John Koranii, um austríaco, proprietário da sala e editor da Revista Íris, cujas publicações eram direcionadas aos amantes da arte fotográfica.

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