sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

RÁDIO NACIONAL de SÃO PAULO - Parte 13 - Final

Minha passagem como funcionário da Rádio Nacional, de dezembro de 1955 a maio de 1958, foi revestida de aspectos curiosos, em relação a pessoas e costumes, até então diferentes dos quantos habitualmente conheci. A seguir, relembro com saudades, fatos inusitados em minhas funções de trabalho.
1- Minha surpresa foi enorme ao solicitar a meu superior (Humberto), que fosse anotado meu registro de trabalho em carteira. O semblante daquela pessoa revelou que tal solicitação não era usual naquela empresa. Difícil foi explicar minha preocupação relacionada à segurança de minha família. Todavia, apresentei-me ao senhor Mário Manhães, encarregado do pseudo Departamento de Pessoal, conseguindo meu intento. 2- Fazer a refeição do almoço com comida trazida em marmita, causava estranheza às pessoas à minha volta. 3- O êxtase de minha mãe, quando nos bastidores, lhe apresentei a cantora Ângela Maria, em uma temporada em São Paulo, oportunidade em que ficamos juntos na primeira fila de poltronas no auditório. 4- Solicitei aumento de salário ao superintendente Dr. Dario de Almeida, na época deputado federal, tendo de lhe explicar a necessidade de meu pedido. Por duas vezes recorri àquele expediente, considerado totalmente “insano” naquele meio. O resultado daquele meu “atrevimento” resultou na possibilidade de ser “encaixado” em outras atividades de trabalho, reduzindo minha jornada na rádio, como por ocasião em que trabalhei no Prédio Martinelli; de outra feita, participei da equipe de desenhistas da TV Paulista, quando conheci José Anézi, encarregado, Mário Tabarin, conceituado professor de desenho da Escola Panamericana de Arte, entre outros, que atenciosamente me acolheram. 5- Em um período de eleições municipais, participei como ajudante da equipe de jornalistas, atuando do Ginásio do Ibirapuera, colhendo votos de uma determinada seção eleitoral. Na ocasião, privei da amizade de Pedro Geraldo Costa, conhecido radialista católico, então candidato ao cargo de Prefeito de São Paulo. Naquele período, valendo-se de seu programa Ave Maria, de todas as tardes, apropriou-se da popularidade do Padre Donizete, da cidade de Tambaú, quando lhe era atribuída à realização de “milagres” nas curas de enfermos. Pedro Geraldo Costa, obteve o último lugar nas eleições. 6- Trabalhei também como ajudante dos cenaristas da TV Paulista, cuja equipe era subordinada a um famoso decorador italiano, vindo daquele país para a Organização Victor Costa. 7- Naquela escalada de tentativas sem fim, cheguei à presença do não menos famoso maestro de teatro musicado, o italiano Enzo Barilli, fazendo contato pessoal em sua residência, num modesto apartamento de um antigo prédio da Avenida São João. Sua necessidade: construir o cenário para um espetáculo musical que seria apresentado no tradicional Teatro São Paulo. Eu não teria capacidade para tanto. 8- “Miúdo” chefe da carpintaria da TV Paulista tornou-se meu grande amigo na O.V.C. Alguns sábados, comíamos feijoada nas imediações da emissora de TV, após o que, íamos assistir jogos no Estádio do Pacaembu, sempre às expensas de Miúdo, um nortista, por quem sentia muita empatia. Lamentavelmente, não conseguia adaptar-me à intranquilidade gerada pela irregularidade no recebimento de meu salário. 9- Em 10 de maio de 1958, pedi demissão, ouvindo de meu chefe José de Castro Fontenelle, bem como do Vice Superintendente, Dr. Floriano Gonçalves, palavras elogiosas por minha disciplina e comportamento profissional. 10-Em 1972, passando casualmente nas imediações da rádio, resolvi visitar alguns antigos colegas. Terezinha, a datilógrafa, disse,”você está com sorte; o Sílvio está chegando para gravar o programa Ronda dos Bairros”. Ouvi forte alarido de pessoas na rua, principalmente de mulheres, prenunciando a presença daquele senhor, na época, já dono de sua atual fama. Postei-me no patamar de uma escada por onde Sílvio passaria. Protegido por seguranças, repentinamente percebeu minha presença, ficando em dúvida de quem eu poderia ser. Passou por mim, seguindo seu trajeto. Afinal, se passara um período de 14 anos.

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